Nova tarifa de Trump pressiona Brasil e pode elevar preços nos EUA

A imposição de uma tarifa de 50% sobre todos os produtos importados do Brasil, anunciada pelo presidente norte-americano Donald Trump, acende um alerta tanto para a economia brasileira quanto para os consumidores dos Estados Unidos. A medida, de caráter ideológico, ameaça o desempenho de setores estratégicos no Brasil e pode provocar alta nos preços de alimentos nos EUA.
A nova política tarifária atinge em cheio exportações importantes do Brasil, como petróleo, café, aço, carne bovina, suco de laranja e aeronaves. Somente em 2024, o Brasil vendeu mais de US$ 40 bilhões em produtos para os Estados Unidos, seu segundo maior parceiro comercial, atrás apenas da China. Agora, especialistas temem impactos severos nas vendas externas e no emprego nacional, além da possível retração econômica.
“Se o dólar se mantiver elevado, teremos inflação persistente e juros altos. Isso pode desacelerar a economia brasileira e até levar à recessão”, alerta Robson Gonçalves, economista e professor da FGV.
O anúncio da tarifa fez o dólar disparar, pressionando ainda mais o custo de vida no Brasil. Como boa parte dos produtos importados é precificada em moeda estrangeira, um dólar mais caro impacta diretamente os preços ao consumidor, alimentando a inflação.
Setores como o da carne bovina já sentem os efeitos. A Associação Brasileira das Exportadoras de Carne afirma que a medida compromete a competitividade do produto brasileiro no mercado americano e pode tornar inviáveis as vendas ao país. Frigoríficos já estudam redirecionar exportações para o mercado asiático.
O setor cafeeiro também está em alerta. Cerca de um terço do café consumido nos EUA vem do Brasil. A substituição por outros fornecedores é vista como inviável a curto prazo.
“O preço internacional do café já está elevado. Os americanos não encontrarão oferta suficiente no mercado externo”, diz Gonçalves.
Após o anúncio de Trump, o preço do café registrou alta de quase 4%.
Outras áreas que devem sentir os impactos incluem a indústria de aviação — as ações da Embraer caíram mais de 3% —, a construção civil, siderurgia, eletrônicos e exportações de máquinas.
Impacto também nos EUA
Do lado americano, a tarifa também pode gerar consequências negativas. A sobretaxa encarece a importação de produtos como café, carne, suco de laranja e açúcar, pressionando a inflação local. Com a escassez de fornecedores em escala semelhante ao Brasil, os consumidores nos EUA devem arcar com preços mais altos.
“Mais da metade do suco de laranja consumido nos EUA vem do Brasil. A indústria americana depende dessa relação há décadas”, destaca Ibiapaba Netto, diretor executivo da CitrusBR.
A carne bovina é outro exemplo: os EUA enfrentam um dos menores rebanhos em décadas, o que elevou o preço do boi no país a quase o dobro do praticado no Brasil, impulsionando as importações do produto brasileiro.
Apesar disso, o impacto sobre a economia dos Estados Unidos tende a ser limitado, já que o Brasil representou apenas 1,4% das importações totais do país em 2024, segundo dados da InvestSmart.
No entanto, analistas veem risco geopolítico: a medida pode isolar os EUA em um momento em que blocos econômicos como União Europeia e Mercosul buscam se fortalecer.
A tarifa deve entrar em vigor a partir de 1º de agosto, caso não haja recuo ou renegociação. Para o Brasil, o desafio agora será redirecionar seus produtos a outros mercados e evitar perdas maiores na balança comercial.
Fonte: G1
Redação: Liberdade FM